As vozes que causaram o nascimento da psicanálise são aquelas que ecoavam, no final do século dezenove, pelo hospital de La Salpetriêre em Paris. Se pudermos usar nossa imaginação saberemos escutar os sons dos corpos de centenas de mulheres confinadas em um hospital psiquiátrico que antes disso havia sido uma prisão feminina. Gritos, gemidos, sussurros, gargalhadas, silêncios. Silêncios múltiplos…
Impactado pela intensa experiência vivida na capital francesa, Freud retorna para Viena e passa a dedicar seus dias aos estudos sobre a histeria No intercâmbio criativo realizado com Breuer, conhece os efeitos da voz de uma mulher em especial: Bertha Pappenheim. Dela, que era uma histérica espetacular e manifestava uma palheta inacreditável e colorida de sintomas, conversões, afetos e dissociações cognitivas. Apaixonada, caíra de amores pelo médico que lhe cuidava. Grávida de significantes, Bertha – mais conhecida por seu nome fictício atribuído por Breuer, Anna O. – foi a primeira a nomear o método psicanalítico que, com ela, e por que não, dela, nascia: a cura pela fala, carinhosamente chamada de limpeza da chaminé.