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As vozes que causaram o nascimento da psicanálise são aquelas que ecoavam, no final do século dezenove, pelo hospital de La Salpetriêre em Paris. Se pudermos usar nossa imaginação saberemos escutar os sons dos corpos de centenas de mulheres confinadas em um hospital psiquiátrico que antes disso havia sido uma prisão feminina. Gritos, gemidos, sussurros, gargalhadas, silêncios. Silêncios múltiplos…

 

Impactado pela intensa experiência vivida na capital francesa, Freud retorna para Viena e passa a dedicar seus dias aos estudos sobre a histeria No intercâmbio criativo realizado com Breuer, conhece os efeitos da voz de uma mulher em especial: Bertha Pappenheim. Dela, que era uma histérica espetacular e manifestava uma palheta inacreditável e colorida de sintomas, conversões, afetos e dissociações cognitivas. Apaixonada, caíra de amores pelo médico que lhe cuidava. Grávida de significantes, Bertha – mais conhecida por seu nome fictício atribuído por Breuer, Anna O. – foi a primeira a nomear o método psicanalítico que, com ela, e por que não, dela, nascia: a cura pela fala, carinhosamente chamada de limpeza da chaminé.

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Inicialmente, gostaria de enfatizar uma citação de Sigmund Freud, presente no texto “A pulsão e suas vicissitudes.”, publicado em 1915, pois penso que as suas consequências para o saber psicanalítico possuem mais importância do que muitos consideram.

 

“O avanço do conhecimento não tolera qualquer rigidez, inclusive em se tratando de definições.” (FREUD, 1974[1915], p. 137)

 

A pulsão – exigência de trabalho feita à mente em consequência de sua ligação com o corpo –  possui características e sofre vicissitudes. Como características Freud introduz a pressão (drang)– que é constante -; a finalidade (ziel) – que é a satisfação, satisfação que é, por sua vez, parcial-;  o objeto (objekt) – que é o que há de mais variável na pulsão-; e  fonte – que é uma zona erógena do corpo. Como vicissitudes da pulsão sexual são apresentadas : a reversão ao seu oposto, o retorno em direção ao próprio eu, a repressão e a sublimação.

A reversão de uma pulsão em seu oposto possui dois processos distintos: “uma mudança da atividade para a passividade e uma reversão de seu conteúdo”.     (FREUD, 1915, p. 147) Como exemplo do primeiro processo citado temos os pares de opostos: sadismo-masoquismo e escopofilia-exibicionismo. Neles, a reversão altera a finalidade da pulsão, onde a finalidade ativa é substituída pela passiva. Já a reversão de conteúdo manifesta-se no exemplo isolado da transformação do amor em ódio.

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“Na perspectiva freudiana, o homem é o sujeito preso e torturado pela linguagem”. (Jacques Lacan)

 

Jacques Lacan apropria-se de conceitos da linguística para repensar a psicanálise, na aurora dos anos cinquenta do século vinte.  Naquela época, o uso que os pós-freudianos faziam da invenção de Sigmund Freud foi amplamente criticado pelo psicanalista francês. A psicanálise, subversiva desde sua origem com as histéricas, tornara-se, com a Psicologia do ego, uma práxis a serviço da adaptação do indivíduo à sociedade. Paradoxalmente, a psicanálise tornara-se anti-psicanalítica. Em Função e campo da fala e da linguagem, testemunha que: “Podemos acompanhar, ao longo dos anos decorridos, essa aversão do interesse pelas funções da fala e pelo campo da linguagem”. (LACAN, 1953/1998, p. 243).  Lacan não se conformou.

Em sua visão, um retorno ao texto original de Freud tornou-se fundamental para que o saber original sobre o inconsciente e a sexualidade sobrevivesse. A leitura rigorosa e a escuta afinada de Lacan, permitiram que ele encontrasse na obra freudiana o lugar de extrema relevância que o primeiro psicanalista conferiu à linguagem nos processos inconscientes. O esquecimento do nome Signorelli, e a análise desenvolvida por Freud a partir dele, em Psicopatologia da vida cotidiana, é um exemplo paradigmático disto. No âmbito da psicose, ressalta-se o caso Schreber, onde o destaque dado à relação do sujeito com a linguagem é também exemplar.

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