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A psicanálise propõe pensar a constituição da sexualidade, em cada sujeito, a partir do inconsciente; já aqueles que se dedicam às questões de gênero compreendem a sexualidade humana como uma construção histórica e cultural. Questiono: É possível hoje pensar o inconsciente em sua relação com a história e com a cultura? Se acompanhamos o pensamento de Sigmund Freud e Jacques Lacan, verificamos que sim.

Cito Freud em Psicologia das massas e análise do eu (1921): “ A oposição entre a psicologia individual e a psicologia social ou de grupo, que à primeira vista pode parecer plena de significação, perde grande parte de sua nitidez quando examinada mais de perto.  É verdade que a psicologia individual relaciona-se com o ser humano singular e estuda os caminhos pelos quais busca alcançar a satisfação de suas moções pulsionais. Mas apenas raramente, sob determinadas condições de exceção, pode o indivíduo prescindir de suas relações com o outro. Em sua vida mental, o outro conta, com total regularidade, como modelo, como objeto, como auxiliar e como inimigo, e portanto, desde o princípio a psicologia individual é simultaneamente psicologia social nesse sentido mais amplo, mas inteiramente legítimo. A relação do individuo com seus pais e irmãos, com seus objetos de amor, com o mestre e com o médico, vale dizer, todos os vínculos que foram até agora tomados preferencialmente pela psicanálise, podem reivindicar serem considerados fenômenos sociais”.

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“Na perspectiva freudiana, o homem é o sujeito preso e torturado pela linguagem”. (Jacques Lacan)

 

Jacques Lacan apropria-se de conceitos da linguística para repensar a psicanálise, na aurora dos anos cinquenta do século vinte.  Naquela época, o uso que os pós-freudianos faziam da invenção de Sigmund Freud foi amplamente criticado pelo psicanalista francês. A psicanálise, subversiva desde sua origem com as histéricas, tornara-se, com a Psicologia do ego, uma práxis a serviço da adaptação do indivíduo à sociedade. Paradoxalmente, a psicanálise tornara-se anti-psicanalítica. Em Função e campo da fala e da linguagem, testemunha que: “Podemos acompanhar, ao longo dos anos decorridos, essa aversão do interesse pelas funções da fala e pelo campo da linguagem”. (LACAN, 1953/1998, p. 243).  Lacan não se conformou.

Em sua visão, um retorno ao texto original de Freud tornou-se fundamental para que o saber original sobre o inconsciente e a sexualidade sobrevivesse. A leitura rigorosa e a escuta afinada de Lacan, permitiram que ele encontrasse na obra freudiana o lugar de extrema relevância que o primeiro psicanalista conferiu à linguagem nos processos inconscientes. O esquecimento do nome Signorelli, e a análise desenvolvida por Freud a partir dele, em Psicopatologia da vida cotidiana, é um exemplo paradigmático disto. No âmbito da psicose, ressalta-se o caso Schreber, onde o destaque dado à relação do sujeito com a linguagem é também exemplar.

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